asiático com fome, frio, infestado de pulgas e muito gripado. A determinação e amor do casal à vida de Floquildo (como foi batizado após descobrirem que era um machinho) fizeram com que muitas pessoas no Brasil se sensibilizassem com sua história, e o ajudassem a vir para o país em busca de uma família.
Floquildo foi encontrado em uma rua escura de Laos (na Ásia) pelo casal de jornalistas Carolina Vila Nova e Solly Harold Boussidan. Ao verem o pequeno gatinho sozinho e doente, decidiram procurar ajuda para que o bichano fosse tratado e encontrasse um lar. Depois de tantos cuidados, tentativas de adoção e durante as viagens pelos outros países do roteiro, o casal decidiu que o melhor seria fazer as malas de Floquildo e ficar com ele no Brasil.
Em entrevista ao Click Pata, Carolina e Solly nos contam como mais detalhes como foi resgatar o gatinho e como estão os preparativos para trazê-lo ao Brasil. Conheça esta linda história de amor e aventura que está sendo vivida por eles.
Como foi o momento do encontro do Floquildo?
Era um sábado à noite estávamos indo para um bar tomar uma cervejinha, em Luang Prabang.
Floquildo após receber os primeiros cuidados. Foto de Carolina Vila Nova |
Simplesmente não podíamos seguir caminho e deixá-lo lá. Hoje temos certeza de que, se tivéssemos feito isso, hoje ele seria uma estrelinha.
É verdade que no início vocês pensaram que fosse uma menina? Como foi descobrir que era um menininho?
Floquildo mais espertinho, já se alimentando. Foto de Carolina Vila Nova |
Sim! Ele era muito pequeno e, quando olhamos, não tinha ainda um saquinho. Então tacamos o nome de Floquilda. Os monges que cuidaram dele temporariamente o chamavam de Missy.
Um dia, numa das intermináveis jornadas de ônibus pelo Laos, Floquildo dormiu de barriga para cima e pela primera vez percebi umas espinhazinhas protuberando ali na região genital. Não acreditamos! Nos dias seguintes, as espinhazinhas foram crescendo e viraram um saquinho de verdade. A gente brinca que o Floquildo é um gatinho transformista.
Foi muito difícil encontrar um atendimento veterinário no local? Quais as dificuldades para o tratamento de gatos no país?
Bom, nós o encontramos num sábado à noite. Ali perto, conseguimos uma indicação de um veterinário, mas quando chegamos lá, estava fechado. Por sorte, o motorista de tuk-tuk disse que conhecia um vet e nos levou na clínica dele. Também estava fechada, mas o motorista tinha o telefone do médico, que aceitou nos atender na casa dele.
Como a maioria dos veterinários na região, ele cuidava quase exclusivamente de gado. Na Ásia, não existe uma cultura de animais de estimação - ao contrário, é comum que se coma gato, cachorro, tartaruga. Os veterinários têm uma formação que dura apenas cerca de seis meses e está voltada para o tratamento de problemas emergenciais que possam afetar os rebanhos. Nem tratamento preventivo existe, e a expectativa de vida do gado é de seis meses.
Esse veterinário deu o tratamento inicial ao Floquildo por três dias seguidos. Foi um anjo, diariamente ia lá no templo onde deixamos o gatinho. Depois, só em Vientiane, na capital do Laos, é que voltamos a encontrar uma clínica veterinária. Lá, havia apenas um médico veterinário formado; os demais ajudantes também consultavam, mas não tinham nenhuma formação. Foi com eles que começamos a dar as vacinas, vermífugos, etc.
Em Hanoi, no Vietnã, conhecemos o Dr Nghia, vietnamita formado no Reino Unido. Ele nos contou como sua profissão é má vista, tida como irrelevante no país. Mesmo assim, ele faz um trabalho lindo, resgatando animais da rua, atendendo sem cobrar, etc.
Bom, nós o encontramos num sábado à noite. Ali perto, conseguimos uma indicação de um veterinário, mas quando chegamos lá, estava fechado. Por sorte, o motorista de tuk-tuk disse que conhecia um vet e nos levou na clínica dele. Também estava fechada, mas o motorista tinha o telefone do médico, que aceitou nos atender na casa dele.
Como a maioria dos veterinários na região, ele cuidava quase exclusivamente de gado. Na Ásia, não existe uma cultura de animais de estimação - ao contrário, é comum que se coma gato, cachorro, tartaruga. Os veterinários têm uma formação que dura apenas cerca de seis meses e está voltada para o tratamento de problemas emergenciais que possam afetar os rebanhos. Nem tratamento preventivo existe, e a expectativa de vida do gado é de seis meses.
Esse veterinário deu o tratamento inicial ao Floquildo por três dias seguidos. Foi um anjo, diariamente ia lá no templo onde deixamos o gatinho. Depois, só em Vientiane, na capital do Laos, é que voltamos a encontrar uma clínica veterinária. Lá, havia apenas um médico veterinário formado; os demais ajudantes também consultavam, mas não tinham nenhuma formação. Foi com eles que começamos a dar as vacinas, vermífugos, etc.
Em Hanoi, no Vietnã, conhecemos o Dr Nghia, vietnamita formado no Reino Unido. Ele nos contou como sua profissão é má vista, tida como irrelevante no país. Mesmo assim, ele faz um trabalho lindo, resgatando animais da rua, atendendo sem cobrar, etc.
Houve tentativas de adoção, inclusive para um mosteiro, por que Floquildo não pode ficar por lá?
Foram o motorista do tuk-tuk e o veterinário que nos indicaram o templo budista Paphai, em Luang Prabang. Naquela mesma noite do resgate, fomos conversar com o abade, que autorizou que o gatinho ficasse lá.
Íamos visitá-lo todos os dias, e numa dessas visitas percebemos que o gatinho estava passando fome. Estava ficando cheio de pulgas e era deixado solto pelos monges, sendo que ali moravam cachorros e havia entrada e saída de gente o dia inteiro. Começamos a questionar se estávamos fazendo a coisa certa em deixá-lo lá. Mais tarde, lemos numa revista tailandesa que os templos são ponto comum de descarte de animais, porque as pessoas esperam que os monges cuidem dos bichinhos.
Acontece que os monges saem todos os dias para receber alimentos doados pela população para a alimentação deles. Eles não têm nada. Um leite que deixamos para o Floquildo estragou porque eles não tinham geladeira. Não é que eles não tenham cuidado, é que as condições de vida são outras.
Foram o motorista do tuk-tuk e o veterinário que nos indicaram o templo budista Paphai, em Luang Prabang. Naquela mesma noite do resgate, fomos conversar com o abade, que autorizou que o gatinho ficasse lá.
Floquildo com os monges, o motorista do tuk-tuk e Carolina Vila Nova no templo budista Paphai, em Luang. Foto de Carolina Vila Nova |
Íamos visitá-lo todos os dias, e numa dessas visitas percebemos que o gatinho estava passando fome. Estava ficando cheio de pulgas e era deixado solto pelos monges, sendo que ali moravam cachorros e havia entrada e saída de gente o dia inteiro. Começamos a questionar se estávamos fazendo a coisa certa em deixá-lo lá. Mais tarde, lemos numa revista tailandesa que os templos são ponto comum de descarte de animais, porque as pessoas esperam que os monges cuidem dos bichinhos.
Acontece que os monges saem todos os dias para receber alimentos doados pela população para a alimentação deles. Eles não têm nada. Um leite que deixamos para o Floquildo estragou porque eles não tinham geladeira. Não é que eles não tenham cuidado, é que as condições de vida são outras.
Na véspera de deixarmos Luang Prabang, decidimos então que o gatinho iria conosco e que íamos tentar encontrar outros adotantes para ele.
Floquildo em sua "caixa de transporte" improvisada para as primeiras viagens Foto de Carolina Vila Nova |
Como foi a mudança de cidades com Floquildo na bagagem? E a entrada nos hotéis e pousadas?
Bom, não tinha petshop também em Luang Prabang. Em um mercadinho, conseguimos uma caixa de papelão e fizemos uns furos improvisados. Essa foi a caixinha de transporte do Floquildo por vários dias, até conseguirmos chegar a Vientiane!
No começo não foi muito difícil; como ainda estava se recuperando da doença, Floquildo ficava bem quietinho lá dentro, dormia a viagem inteira. Depois, começou a ficar mais espertinho e aí ficou mais difícil mantê-lo dentro da caixa. Muitas vezes, tirávamos ele de dentro e ele viajava no nosso colo.
Os demais passageiros, estrangeiros ou locais, achavam aquela situação meio inusitada. Riam, faziam brincadeiras. A primeira reação era sempre de surpresa: "O quê?? Vocês estão viajando com um gato?".
Eram viagens muito cansativas e estressantes, por estradas horríveis, por muitas horas.
Surpreendentemente, não tivemos problema em nenhuma pousada ou hotel, no que diz respeito à aceitação do gatinho no quarto. Apenas deixavam claro que tínhamos de deixar tudo absolutamente limpo. Teve uma ocasião em que a cama era muito alta e o gatinho, não conseguindo pular, fez xixi ali mesmo. Morremos de vergonha de falar com a gerência, mas eles nem cobraram de nós a lavagem do edredom. Apenas pediram que tivéssemos mais cuidado.
Bom, não tinha petshop também em Luang Prabang. Em um mercadinho, conseguimos uma caixa de papelão e fizemos uns furos improvisados. Essa foi a caixinha de transporte do Floquildo por vários dias, até conseguirmos chegar a Vientiane!
No começo não foi muito difícil; como ainda estava se recuperando da doença, Floquildo ficava bem quietinho lá dentro, dormia a viagem inteira. Depois, começou a ficar mais espertinho e aí ficou mais difícil mantê-lo dentro da caixa. Muitas vezes, tirávamos ele de dentro e ele viajava no nosso colo.
Os demais passageiros, estrangeiros ou locais, achavam aquela situação meio inusitada. Riam, faziam brincadeiras. A primeira reação era sempre de surpresa: "O quê?? Vocês estão viajando com um gato?".
Eram viagens muito cansativas e estressantes, por estradas horríveis, por muitas horas.
Surpreendentemente, não tivemos problema em nenhuma pousada ou hotel, no que diz respeito à aceitação do gatinho no quarto. Apenas deixavam claro que tínhamos de deixar tudo absolutamente limpo. Teve uma ocasião em que a cama era muito alta e o gatinho, não conseguindo pular, fez xixi ali mesmo. Morremos de vergonha de falar com a gerência, mas eles nem cobraram de nós a lavagem do edredom. Apenas pediram que tivéssemos mais cuidado.
Quando vocês decidiram que o Floquildo viria com vocês para o Brasil?
Quando retiramos Floquildo do templo, não tínhamos decidido ficar com ele. A ideia era procurar um abrigo ou alguém que quisesse adotá-lo. Acionamos todos os amigos que temos na Ásia, pedimos que divulgassem a história, que falassem com seus amigos, que nos dessem ideias de como prosseguir, mas não tivemos sucesso. Não houve interesse.
Descobrimos que havia um centro de resgate em Vientiane, mas eles estavam no meio de uma campanha por fundos emergenciais e corriam o risco de fechar.
Nesse meio tempo, fomos nos apegando ao Floquildo, e ele a nós. Não sei qual foi o momento exato em que decidimos, mas foi ficando claro que não íamos deixá-lo com qualquer pessoa ou organização.
No fim do mês, quando venceu nosso visto para o Laos e tínhamos de deixar o país, já sabíamos que ele viria conosco e adaptamos nosso roteiro à realidade de ter um gatinho junto. E a partir daí começamos a pensar concretamente em como seria trazê-lo para o Brasil.
Que tipo de documentação é exigida para esse tipo de viagem? Como vocês se informaram disso e como funciona o processo para obter esta documentação?
As exigências da Vigilância Sanitária no Brasil são a vacina anti-rábica com no mínimo 30 dias da data de desembarque e um atestado veterinário de saúde. Ele precisa vir acompanhado do Certificado Zoossanitário Internacional expedido pelo serviço sanitário oficial do país de origem e desembaraçado na unidade do Ministério de Agricultura no aeroporto de desembarque. Se o animal viaja com o dono, seja na cabine, seja na carga, isso basta.
O Brasil não exige a implantação de chip, mas pode ser que algum país de trânsito exija. Aliás, é preciso atender às regras específicas do país de trânsito, se for o caso.
Se o animal viaja como bagagem desacompanhada, aí complica, porque ele precisa passar por desembaraço aduaneiro ao chegar no Brasil. Você precisa de um despachante e o animal pode estar sujeito à cobrança de impostos calculados com base em 60% do frete mais um valor atribuído pelo fiscal ao animal. Isso fez com que desistíssemos dessa modalidade de viagem.
Fomos nos informando sobre os procedimentos e custos por empresas especializadas no transporte internacional de animais, pelo veterinário, pelas empresas aéreas, pela embaixada brasileira no Vietnã. Nessa reta final, estamos contando com a assessoria no Brasil da Flying Pet, cujo diretor se sensibilizou com a história do Floquildo.
Quando retiramos Floquildo do templo, não tínhamos decidido ficar com ele. A ideia era procurar um abrigo ou alguém que quisesse adotá-lo. Acionamos todos os amigos que temos na Ásia, pedimos que divulgassem a história, que falassem com seus amigos, que nos dessem ideias de como prosseguir, mas não tivemos sucesso. Não houve interesse.
Descobrimos que havia um centro de resgate em Vientiane, mas eles estavam no meio de uma campanha por fundos emergenciais e corriam o risco de fechar.
Nesse meio tempo, fomos nos apegando ao Floquildo, e ele a nós. Não sei qual foi o momento exato em que decidimos, mas foi ficando claro que não íamos deixá-lo com qualquer pessoa ou organização.
No fim do mês, quando venceu nosso visto para o Laos e tínhamos de deixar o país, já sabíamos que ele viria conosco e adaptamos nosso roteiro à realidade de ter um gatinho junto. E a partir daí começamos a pensar concretamente em como seria trazê-lo para o Brasil.
Que tipo de documentação é exigida para esse tipo de viagem? Como vocês se informaram disso e como funciona o processo para obter esta documentação?
Foto de Carolina Vila Nova |
As exigências da Vigilância Sanitária no Brasil são a vacina anti-rábica com no mínimo 30 dias da data de desembarque e um atestado veterinário de saúde. Ele precisa vir acompanhado do Certificado Zoossanitário Internacional expedido pelo serviço sanitário oficial do país de origem e desembaraçado na unidade do Ministério de Agricultura no aeroporto de desembarque. Se o animal viaja com o dono, seja na cabine, seja na carga, isso basta.
O Brasil não exige a implantação de chip, mas pode ser que algum país de trânsito exija. Aliás, é preciso atender às regras específicas do país de trânsito, se for o caso.
Se o animal viaja como bagagem desacompanhada, aí complica, porque ele precisa passar por desembaraço aduaneiro ao chegar no Brasil. Você precisa de um despachante e o animal pode estar sujeito à cobrança de impostos calculados com base em 60% do frete mais um valor atribuído pelo fiscal ao animal. Isso fez com que desistíssemos dessa modalidade de viagem.
Fomos nos informando sobre os procedimentos e custos por empresas especializadas no transporte internacional de animais, pelo veterinário, pelas empresas aéreas, pela embaixada brasileira no Vietnã. Nessa reta final, estamos contando com a assessoria no Brasil da Flying Pet, cujo diretor se sensibilizou com a história do Floquildo.
Como foi a resposta à campanha criada para ajudar a trazer o Floquildo para o Brasil? Vocês se surpreenderam?
Foi incrível, nós realmente não esperávamos o alcance que teve. Claro que houve críticas, mas as reações positivas foram infinitamente superiores.
A campanha na verdade foi uma sugestão da Juliana Bussab, do Adote um Gatinho, quando começamos a conversar sobre o caso do Floquildo e sobre os custos para trazê-lo.
Com cerca de 36 horas, encerramos o recebimento de doações, pois já tínhamos ultrapassado o necessário. Assim que o PagSeguro fechar todas as transações divulgaremos o valor arrecadado e iremos prestar conta de todos os gastos. Como anunciamos, todo o excedente será revertido para o Adote um Gatinho.
Como vocês se sentem depois de tudo o que fizeram para salvar a vida do Floquildo?
Foi incrível, nós realmente não esperávamos o alcance que teve. Claro que houve críticas, mas as reações positivas foram infinitamente superiores.
Banner criado para divulgar a situação de Floquildo e arrecadar auxílio para sua viagem. |
A campanha na verdade foi uma sugestão da Juliana Bussab, do Adote um Gatinho, quando começamos a conversar sobre o caso do Floquildo e sobre os custos para trazê-lo.
Com cerca de 36 horas, encerramos o recebimento de doações, pois já tínhamos ultrapassado o necessário. Assim que o PagSeguro fechar todas as transações divulgaremos o valor arrecadado e iremos prestar conta de todos os gastos. Como anunciamos, todo o excedente será revertido para o Adote um Gatinho.
Como vocês se sentem depois de tudo o que fizeram para salvar a vida do Floquildo?
Nos sentimos com o coração quentinho, nos sentimos privilegiados. As pessoas dizem que o gatinho teve sorte; nós achamos que os sortudos somos nós. Ele é um serzinho maravilhoso. E por intermédio dele estamos conhecendo outras pessoas maravilhosas também.
Quais conselhos vocês dão à outras pessoas que passem pela mesma aventura de vocês e deseje trazer um animalzinho resgatado em outro país?
Você pode saber mais sobre o Floquildo e sua história nos links abaixo, e ainda acompanhar o restante de sua viagem pela página no Facebook, clicando aqui.
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